Superesploração da água é fator de
risco sísmico na Califórnia
Terra Beta - AFP (14 de maio de 2014)
A A exploração intensiva de água na região central
da Califórnia, principalmente para irrigar
lavouras, pode acelerar o ritmo dos tremores de
terra no oeste americano, sugere um estudo
publicado nesta quarta-feira.
Os cientistas avaliam que a extração de água, a
irrigação e fenômenos de evaporação têm
provocado, nos últimos 150 anos, o
desaparecimento de 160 quilômetros cúbicos de
água (1 km³ equivale a um bilhão de litros) nos
lençóis freáticos do Vale Central da Califórnia.
Esta perda de volume nas rochas do subsolo
acabou influenciando os movimentos da crosta
terrestre e a atividade sísmica da região,
próxima da conhecida falha de San Andreas,
avaliaram Colin Amos, geólogo da Western
Washington University, e sua equipe.
Graças a uma rede de marcos de GPS, os
pesquisadores mediram as variações do relevo
no vale de San Joaquin, um dos celeiros dos
Estados Unidos, que garante cerca da metade da
produção de frutas e legumes do país.
Os geólogos já sabem que este vale sofre
fenômenos de desnível, às vezes muito
pronunciados (cerca de 30 cm por ano, em
alguns lugares, um registro acumulado de 5,50
metros), provocados pela extração de água no
subsolo, uma atividade sem qualquer limitação
regulamentar na Califórnia, ao contrário do que
acontece em muitos outros estados vizinhos.
Colin Amos descobriu que algumas regiões
rochosas na fronteira do vale de San Joaquin,
como a famosa Sierra Nevada, elevou-se de 1 a
3 mm todos os anos, em uma espécie de choque
de reação, vinculado à elasticidade da crosta
terrestre.
Esta tendência sazonal, ligada às precipitações e
que termina na estação seca (fim do verão e
começo do outono), é acompanhada de um
fenômeno de fundo que se acentua ano após
ano e que corresponde à superexploração de
lençóis freáticos, escreveram os autores no
estudo, publicado na revista científica britânica
Nature.
Esta sobre-elevação crônica de parte da
Califórnia central modifica as tensões exercidas
sobre a falha de San Andreas, aumentando
provavelmente a frequência de pequenos sismos
na região, mas também potencialmente, a mais
longo prazo, os riscos de um tremor de terra
maior.
"Estes resultados sugerem que as atividades
humanas podem aumentar progressivamente o
ritmo dos sismos", destacaram os cientistas,
que se disseram ainda mais inquietos porque a
demanda de água deverá continuar a subir na
Califórnia apesar dos efeitos negativos das
mudanças climáticas sobre os recursos hídricos.